Os insetos e seu sistema endócrino
Os
insetos são os animais mais diversos do planeta sendo encontrados em praticamente
todos os ambientes: em meio terrestre e aquático, em locais quentes e gelados. Promovem
muitos benefícios para os seres vivos, em especial os humanos, pois são
responsáveis (na maioria dos casos) pela produção de frutos utilizados como
fonte de alimento para diversos animais. Ao utilizar as flores para alimentação
e ‘recursos’ para a proteção dos seus ninhos (pólen e óleos), os insetos
promovem a reprodução e dispersão de muitas espécies vegetais. Em muitos casos,
a reprodução das plantas depende intimamente dos insetos e vice-versa.
Para
todos os seres vivos, o sistema endócrino é responsável pela produção de
hormônios a partir de glândulas. Nos insetos, é encontrada a partir da secreção
nos centros neurais de substâncias químicas sinalizadoras que atuam em um local
distante do que foi produzido. São estas substâncias que diferenciam um inseto
em suas várias fases, desde a muda até quando indivíduo o se torna adulto,
apresentando corpo alado e chegando a sua reprodução. Em cada fase, um hormônio especifico irá
atuar para promover as diferenças morfológicas nestes indivíduos.
Figura 1 - Representação dos hormônios produzidos pelos insetos para cada fase de seu ciclo de vida.
Na ecdise (muda) a atuação do hormônio protoracicotrópico (HPTT) é fundamental para que haja o desprendimento do exoesqueleto do corpo do animal; este composto é transportado através da hemolinfa (sangue dos insetos) por meio de glândulas protorácicas até seu receptor periférico. Na fase juvenil, o hormônio apresenta um papel importante na modificação e especificidades da morfologia (interna e externa) do inseto, juntamente com os ecdisteróides; toda a ação é comandada por neuropeptídeos.
Figura 1 - Representação dos hormônios produzidos pelos insetos para cada fase de seu ciclo de vida.
Na ecdise (muda) a atuação do hormônio protoracicotrópico (HPTT) é fundamental para que haja o desprendimento do exoesqueleto do corpo do animal; este composto é transportado através da hemolinfa (sangue dos insetos) por meio de glândulas protorácicas até seu receptor periférico. Na fase juvenil, o hormônio apresenta um papel importante na modificação e especificidades da morfologia (interna e externa) do inseto, juntamente com os ecdisteróides; toda a ação é comandada por neuropeptídeos.
Figura 2- Representação do sistema nervoso de um inseto. Os gânglios nervosos são responsáveis pela transmissão das sinapses para todo o organismo dos insetos. |
Esses
invertebrados podem gerar conflitos com os humanos, pois muitos deles buscam
seus recursos em áreas antropizadas causando doenças, visto que esses animais
são vetores de certas enfermidades como a dengue.
Na
tentativa de promover um combate eficiente aos insetos considerados pragas em
muitas atividades agrícolas, o ser humano desenvolveu métodos químicos como uso
de inseticidas e defensivos agrícolas que podem ser facilmente utilizados e de
rápida ação deletéria a grande parte desses animais. O grande problema é que,
em curto prazo, o uso indiscriminado desses agentes químicos pode parecer
satisfatório, porém, quando se realizam estudos em longo prazo, observasse que
nem para a economia e muito menos para a saúde, esse uso é bom e tem criado
sérios riscos.
Figura 3 - Receptores de GABA, mostrando os sítios dos canais de Sódio e Cloro. Cada receptor apresenta compostos específicos de encaixe. |
Ao
passar por essa pressão seletiva, os indivíduos podem adquirir resistência ao
tratamento, aplicado de forma errônea, alterando sua fisiologia. Ao ser
utilizado um inseticida, por exemplo, parte da população morre e aqueles que
sobrevivem podem gerar descendentes menos vulneráveis aos efeitos dos
inseticidas. Aplicando inseticida nessa geração, menos indivíduos morrerão do
que na geração parental e mais indivíduos resistentes serão gerados, chegando a
um ponto que o tratamento não produza mais efeitos sobre a população de insetos
da área.
A ação não letal dos inseticidas
pode estar ligada ao tipo de revestimento do corpo desses animais. Os insetos
possuem o esqueleto externamente (exoesqueleto), com uma camada chamada
cutícula, contendo quitina. Dependendo da espessura e da composição química
dessa cutícula, a quantidade de inseticida que irá penetrar no corpo do inseto
pode variar. Alterações em determinados canais, sítios de ligação dos inseticidas
nas células, também podem estar associados à redução da ação neurotóxica desses compostos, a exemplo do canal de sódio
que, ocorrendo uma mutação, pode mudar a conformação e não permitir a ligação
desses compostos nos canais; o fluxo de sódio permanecerá normal e o organismo
continuará vivo.
Um alerta: cuidado com os disruptores endócrinos
Nesse
contexto do uso de defensivos agrícolas e inseticidas, surge uma questão de
saúde pública, que não é muito debatida na mídia e que provoca sérios problemas
na natureza: o uso dessas substâncias químicas pode perturbar o sistema endócrino dos seres humanos e de outros animais e são conhecidas por desruptores
endócrinos.
Desruptores
endócrinos são por definição da Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency –
EPA), “agente exógeno que interfere com síntese,
secreção, transporte, ligação, ação ou eliminação de hormônio natural no corpo
que são responsáveis pela manutenção, reprodução, desenvolvimento e/ou
comportamento dos organismos”. Sendo assim, essas substâncias podem afetar
seriamente o corpo dos animais e se acumulam facilmente na natureza, pelo fato
de serem utilizados de qualquer jeito e resistir por muito tempo (eles se acumulam no solo e na águas, por exemplo).
Seus mecanismos fisiológicos de ação são
variados e uma das possíveis explicações biológicas é a desregulação dos
processos de sinalização celular, em que essas substâncias ligam-se aos
receptores dos neurotransmissores e bloqueiam a ação dos hormônios que seriam
produzidos, ou substituem os hormônios naturais ou ainda provocam o aumento ou
diminuição de hormônios naturais. Isso irá desencadear respostas negativas no
organismo, muitas delas relacionadas à reprodução.
Para refletir....
A
maneira descontrolada de utilização das substâncias químicas em nosso país, na
tentativa de se obter os melhores lucros em pouco tempo e principalmente sem
preocupação com os problemas futuros que isso a venha causar, pode gerar
problemas de gravíssimas conseqüências para a saúde pública e na manutenção do
equilíbrio ecológico, uma vez que o uso excessivo dos inseticidas, por exemplo,
venha a promover uma seleção artificial dos insetos.
Faz-se
necessário a maior divulgação desse assunto, pois em muitos casos, o uso
inadequado dessas substâncias químicas é realizado pela falta de informações e consequente falta de interesse das mídias em divulgá-las. É
preciso também que haja uma maior fiscalização nas grandes produções agrícolas e instrução necessária aos pequenos agricultores.
As
pessoas precisam entender que a obtenção de dinheiro de forma menos trabalhosa,
em curto prazo parece ser bom, porém o feitiço pode se voltar contra o
feiticeiro e você acabar colocando em sua mesa uma refeição totalmente
contaminada pelos produtos que você mesmo utilizou em suas plantações, o que
provocará doenças e fará perder tudo o que foi conquistado... inclusive a vida.
“A mesa mata mais
gente do que as guerras.” Joseph de
Maistre
Referências:
GULLAN, P. J.; CRANSTON, P. S; MCINNES, K. Hansen. Os insetos: um resumo de entomologia. 3.ed São Paulo, SP: Roca, 2008. 440 p. ISBN 9788572417020
http://www.insecta.ufv.br/
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/trabalhador/pdf/texto_disruptores.pdf
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